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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Reflexão

MOISÉS NAÍM

Sete perguntas sobre o futuro


Nos perguntamos quais serão alguns dos dilemas que vão moldar o mundo nos próximos cem anos

ULTIMAMENTE, o futuro tem sido asfixiado pelas emergências.
A ansiedade suscitada pela crise econômica europeia, as batalhas políticas nos EUA, as convulsões sociais em muitos países e a possível desaceleração do crescimento da China são apenas algumas das fontes de incerteza sobre o futuro imediato que não nos deixam pensar para mais adiante que as próximas semanas ou meses. Isso é natural, inevitável e muito humano.
O "think-tank" no qual trabalho, o Carnegie Endowment for International Peace, acaba de completar cem anos. Animados pelo centenário, nos perguntamos quais serão alguns dos dilemas que vão moldar o mundo nos próximos cem anos.
É o tipo de exercício mental que pode parecer banal. As respostas têm poucas probabilidades de serem corretas. Ademais, quando se souberem as respostas nós já não estaremos aqui para confirmá-las -ou viver com as consequências.
Para que nos fazermos essas perguntas, então? Porque são perguntas que estimulam reflexões interessantes e sintetizam nossas opções em vários âmbitos críticos.
O simples fato de refletir sobre possíveis respostas e sobre os fatores que é preciso levar em conta para chegar a essas respostas nos proporciona uma visão do mundo que nos ajuda a fundamentar melhor nossas opiniões sobre as decisões mais importantes a tomar agora.
São perguntas sobre as quais vale a pena conversar e sobre as quais nós, como humanidade, deveríamos estar lendo e discutindo tanto quanto ou mais do que lemos e falamos sobre a crise grega ou a vida sexual de Silvio Berlusconi.

As perguntas são as sete que seguem e não estão em ordem de importância. Além disso, várias delas estão obviamente interligadas.

1) Qual será o modelo de governo que vai prevalecer: democracias à moda europeia ou americana ou regimes autoritários mais parecidos com o regime chinês de hoje?
2) Quantos países terão armas nucleares em 2100? Nenhum? 25? Esse é o número de países que, segundo especialistas, poderão ter bombas atômicas nas próximas décadas, se decidirem desenvolver agressivamente um programa com esse objetivo -e se o resto do mundo permitir que o façam.
3) Conseguiremos limitar o aumento de temperatura em 3ºC ou ela terá subido até 8ºC ou mais?
4) A expansão acelerada da classe média nos países mais pobres e mais populosos do mundo que começou nesta década vai continuar, ou as tendências dominantes serão a pobreza, a desigualdade econômica e a exclusão?
5) A internet e o ciberespaço vão se desenvolver como forças benignas, ou serão fonte constante de desestabilização e novas ameaças?
6) O islã vai continuar a ser fonte de atritos e conflitos, ou se renovará, transformando-se em uma força de apoio à paz e de estímulo ao desenvolvimento?
7) Uma das características do século 20 foi a criação de um grande número de novos países. Os Estados falidos e o desaparecimento de países serão uma característica do 21?
Não é uma lista completa. Cada qual terá sua própria. Mas essas perguntas deveriam constar de qualquer lista e servem para iniciar uma discussão indispensável.

Disponível em:

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

"O Cemitério de Praga", Umberto Eco, (Record)

Por CONTARDO CALLIGARIS

O protagonista do novo (e ótimo) romance de Umberto Eco, "O Cemitério de Praga" (Record), é um falsário do fim do século 19.
Você, emissário de sei lá qual governo ou grupo, quer fomentar o antissemitismo, provando que os judeus conceberam um plano diabólico de domínio do mundo? Devidamente contratado, o falsário criará "Os Protocolos dos Sábios de Sião", prova cabal de um complô judaico. O texto, uma vez "descoberto", alimentará o antissemitismo mundo afora, durante décadas.Hoje, a tecnologia digital facilita o trabalho dos falsários, e, graças à internet, um boato se transforma rapidamente numa certeza coletiva. Mas, de qualquer forma, nunca foi muito árduo inventar conspirações ocultas e espalhar desconfiança e delírios segundo os quais os misteriosos "eles" estariam tramando na sombra. O fato é que o público adora uma teoria conspiratória. Ou melhor, sejamos sinceros: em regra, adoramos entender o mundo como fruto de conspirações que tentam nos enganar. Por que será?Uma resposta está no livro (já clássico) de Elaine Showalter, "Histórias Histéricas" (Rocco, esgotado -tente www.estantevirtual.com.br).Showalter lembra que, para negar a existência e o surgimento de desejos sexuais em seus corpos e almas, as histéricas começam por atribuir esses desejos aos outros ou, como se diz, por projetá-los nos outros. Logo, elas fogem dos ditos outros (que se tornaram zumbis portadores dos desejos delas) ou os acusam de seduções e estupros. Moral da história, a histérica pode dizer: 1) eu não desejo nada, sou e me mantenho pura, pois o sexo não vem de mim, mas dos outros, que querem me sujar e 2) eu sei quem o outro "realmente" é, sei quais desejos vergonhosos ele esconde atrás de sua aparência bem-comportada. Em suma, 3) posso negar que tenho desejos, não preciso me responsabilizar nem me envergonhar por eles e, além disso, pretendo saber desvendar o lado obscuro de qualquer um.Desvantagem: assim fazendo, eu me afasto irremediavelmente de meu próprio desejo. E os homens, nessa história? Segundo Showalter, sobretudo hoje, a histeria dos homens aparece, justamente, na crença em teorias conspiratórias: as meninas acham que os outros querem seduzi-las e violentá-las, e os meninos acham que os outros querem enganá-los e manipulá-los.(Antes de continuar, uma nota: pode ser que imaginar teorias conspiratórias e acreditar nelas seja uma forma de histeria masculina, mas isso não significa que as conspirações não existam. Ao contrário, como mostra o romance de Eco, sempre existe, no mínimo, a conspiração dos que constroem e espalham teorias conspiratórias.)Mas voltemos à histeria dos homens segundo Showalter. Eis quatro vantagens para os que gostam de conspirações escusas.1) Quem entende o mundo à força de "desvendar" conspirações só pode se perceber como uma exceção: ele acredita ser o único, ou quase, que enxerga as tramas nefastas dos outros -o único ou um dos poucos que "eles" não estão conseguindo enganar.2) Com a ideia de que sempre há outros que tentam nos manipular e controlar, a gente se oferece uma volta à infância e à relação com os pais. Há um prazer nostálgico na suposição de que haja adultos os quais, num conluio entre si, decidem nosso destino, sem nos explicar nem de longe o que realmente acontece. Há um prazer nostálgico na ideia (infantil e pré-adolescente) de estarmos nas mãos de outros todo- poderosos e de sermos os únicos que, heroicamente, resistem à sua sedução e desvendam suas mentiras.3) Uma hipotética conspiração, por mais hostil que ela nos seja, permite-nos confiar numa ordem do mundo -boa ou ruim. Se há intenções escondidas, nada ou pouco acontece por acaso, o mundo obedece a um plano -da divina providência, do demônio ou dos conspiradores, tanto faz: de qualquer forma, a existência de um plano é consoladora.4) Para as histéricas, atribuir o desejo sexual ao outro é um jeito de negar sua própria sexualidade. Para os homens não é muito diferente: a invenção de uma conspiração maléfica lhes permite ignorar seus próprios desejos "políticos" sombrios, os que eles preferem esconder de si mesmos.Afinal, o conspirador, ao qual atribuo a vontade de me enganar e manipular, é quase sempre uma projeção, ou seja, é minha própria criação, à imagem e semelhança de mim. ccalligari@uol.com.br

Disponível em: http://migre.me/60tcE

Acesso em 27/10/2011.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

DEFICIÊNCIAS - Mario Quintana (escritor gaúcho 30/07/1906 -05/05/1994).



"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida,
aceitando as imposições de outras pessoas
ou da sociedade em que vive,
sem ter consciência de que é dono do seu destino.
"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio,
de fome, de miséria, e só tem olhos
para seus míseros problemas e pequenas dores.
"Surdo" é aquele que não tem tempo
de ouvir um desabafo de um amigo,
ou o apelo de um irmão.
Pois está sempre apressado para o trabalho
e quer garantir seus tostões no fim do mês.
"Mudo" é aquele que não consegue falar
o que sente e se esconde por trás
da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar
na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar
o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências
é ser miserável, pois:
"Miseráveis" são todos que
não conseguem falar com Deus.

"A amizade é um amor que nunca morre. "




sábado, 15 de outubro de 2011

Parabéns Professores(as)!

"A escola não terá função se o professor repetir conteúdos. O bom professor será um gerenciador de curiosidades". GILBERTO DIMENSTEIN

Por: Selma Pupim


Ao cumprimentá-los pela passagem de mais um dia tão especial, transcrevo uma mensagem que traduz a minha admiração pela seriedade e profissionalismo quanto ao desempenho de seu trabalho. No decorrer dos anos, novos hábitos e costumes nos acompanham em nossa trajetória; muitos alunos, amigos, e funcionários passam por nossas vidas. Alguns nos transmitem conhecimentos, abrem nossas mentes, despertam valores, outros nem tanto.

Sem dúvida, nossa profissão nos faz refletir sobre a brevidade de nossa existência em todas as dimensões; sobre a nossa trajetória até aqui, os lugares pelos quais passamos, sobre o valor e a fugacidade do tempo. Há algum tempo, Vinícius de Moraes deixou interrogações e infinitas possibilidades ao escrever o consagrado verso "Meu tempo é quando", de sua Poética. Parafraseando o poeta, eu diria: Nosso tempo é hoje, professores: concreto e palpável. É assim que devemos nos ver: "Nosso melhor momento é agora", portanto, sejamos felizes em mais um Dia dos Professores!

Lembrem-se, ainda, de que durante a nossa existência, "Todos ganham presentes, mas nem todos abrem o pacote". Às vezes não damos conta do que a vida nos proporciona e acabamos "não abrindo os melhores presentes". Que tenhamos um bom Dia dos Professores! FELICIDADES!


Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro." D. Pedro II


15/10/2011





Valor de ser Educador

Ser transmissor de verdades,
De inverdades...
Ser cultivador de amor,
De amizades.
Ser convicto de acertos,
De erros.
Ser construtor de seres,
De vidas.
Ser edificador.
Movido por impulsos, por razão, por emoção.
De sentimentos profundos,
Que carrega no peito o orgulho de educar.
Que armazena o conhecer,
Que guarda no coração, o pesar
De valores essenciais
Para a felicidade dos seus.
Ser conquistador de almas.
Ser lutador,
Que enfrenta agruras,
Mas prossegue, vai adiante realizando sonhos,
Buscando se auto-realizar,
Atingir sua plenitude humana.
Possuidor de potencialidades.
Da fraqueza, sempre surge a força
Fazendo-o guerreiro.
Ser de incalculável sabedoria,
Pois o valor da sabedoria é melhor que o de rubis.
É...
Esse é o valor de ser educador.
Maria Darismar Duarte Henes Cortes

"A educação é o fator mais importante na sociedade do conhecimento, pois sabemos que é, na educação escolar, que se encontra o significado da aprendizagem ligado ao acesso a um saber de base científica". Maria Ângela Coelho, mestre em Educação pela Unicor/MG, consultora pedagógica da Rede Católica de Educação.


domingo, 9 de outubro de 2011

As dez lições de Steve Jobs

Trajetória profissional brilhante e história pessoal de dramas e superação têm muito a ensinar

iG São Paulo | 09/10/2011 19:05


Steve Jobs foi um homem brilhante. Em mais de 30 anos de carreira, o cofundador da Apple sempre foi referência em inovação e design de produtos de tecnologia.

Foto: Getty Images Ampliar / Steve Jobs

Sua contribuição para a humanidade tem sido comparada à de Thomas Edison, Henry Ford e outros visionários que mudaram o mundo.

1- As inovações mais permanentes unem arte e ciência

Esse foi o grande diferencial da Apple em relação às concorrentes. Em sua equipe, Jobs sempre teve pessoas com formações em áreas como antropologia, arte, história e poesia. Ele foi mestre em aliar às novidades tecnológicas a um design simples e interessante, que foi a chave de seu sucesso.

2- Para criar o futuro, ouvir o cliente é perda de tempo

A teoria diz para testar produtos em fase de desenvolvimento com seus clientes antes de lançá-los no mercado. Jobs sempre achou isso uma perda de tempo. Consumidores nem sempre sabem o que querem – ainda mais se é algo que nunca viram, ouviram ou tocaram. Jobs confiava mais em si mesmo.

3- Nunca tenha medo de fracassar

Ser demitido da empresa que criou por um funcionário que ele mesmo contratou foi uma das situações mais embaraçosas no mundo dos negócios das últimas décadas. Mas nem por isso Jobs desistiu, mas continuou a seguir seus sonhos. Também foi incansável na luta contra a vida, desde que foi diagnosticado oito anos atrás com câncer de pâncreas.

Ele aprendeu a viver cada dia com coragem e lutar por sua paixão, conforme pode ser visto em um emocionante discurso que Jobs fez a alunos da Universidade de Stanford, em 2005.


4- As coisas ficam mais claras com o tempo

O executivo aprendeu a não se preocupar tanto com imprevistos e coisas que pareciam não dar certo em sua vida. Nem sempre é possível entender de antemão os motivos, mas com o tempo fica mais fácil “ligar os pontos”. Na realidade, esses imprevistos podem se tornar nas sementes de um sucesso imenso no futuro.

5- Escute sua voz interior

Jobs foi um homem que seguiu sua voz interior. Ele tinha um plano e lutava por isso. Queria construir computadores. Muitos se contentam com uma profissão para agradar aos pais ou porque o salário é bom. Jobs não. Fez o que amava e mudou o mundo com isso. Nem sempre é fácil ter coragem para enfrentar o mundo e correr atrás dos sonhos. Mas pode valer a pena.

6- Espere muito de si mesmo e dos outros

O cofundador da Apple não era exatamente “bonzinho”. Quem trabalhou com ele conta que Jobs costumava gritar com funcionários. Era um controlador, um perfeccionista. Ele era apaixonado pelo que fazia e por isso queria o melhor dele mesmo e dos outros. Se não fossem capazes de dar o melhor, que fossem embora – ele não queria pessoas assim por perto.

7- Não se preocupe em estar certo. Preocupe-se em ser bem-sucedido

O exemplo de Jobs mostra que não se pode estar tão preocupado com a sua visão sobre como um produto vai funcionar, a ponto de esquecer a realidade. Estar certo sobre um assunto não é o mais importante. O fundamental é reconhecer quando algo precisa ser feito de algo para poder ser um sucesso. Se não abrisse mão de algumas de suas “verdades”, a Apple nunca teria conseguido lançar o Mac.

8- Esteja sempre cercado de pessoas talentosas

Pode até parecer, mas a Apple não é Steve Jobs. O executivo se cercou de pessoas muito talentosas, que não recebem o crédito que merecem. O fato de que o preço das ações da Apple continua a se sustentar desde que o executivo teve de renunciar ao comando da companhia mostra a força da equipe.

9- Continue com fome. Continue tolo

Foi com essas palavras que Jobs encerrou seu discurso aos alunos de Stanford. Ele contou que costumava ler quando era jovem a enciclopédia “The Whole Earth Catalog” (O Catálogo de toda a Terra) – uma espécie de Google dos tempos pré-internet. Na contracapa de cada livro havia uma foto de uma estrada em uma manhã ensolarada e os dizeres: “Continue com fome. Continue tolo”. “Sempre desejei isso para mim mesmo”, disse Jobs aos alunos. “E agora, eu desejo isso para vocês”.

10- Tudo é possível com trabalho árduo, determinação e visão

Embora fosse o maior CEO de todos os tempos e o pai da computação moderna, na realidade Jobs era só um homem. O que faz pensar que todos têm potencial para ser como ele. Ele fundou a Apple, depois foi demitido da empresa, voltou à companhia na hora de salvá-la da falência e fez dela um dos maiores impérios corporativos do mundo. Você também pode.

"AS PALAVRAS VOAM, A ESCRITA PERMANECE"

“VERBA VOLANT - SCRIPTA MANENT"

VOCÊ SABE O QUE É UM PALÍNDROMO?

Um palíndromo é uma palavra ou um número que se lê da mesma maneira nos dois sentidos, normalmente, da esquerda para a direita e ao contrário.

Exemplos: OVO, OSSO, RADAR. O mesmo se aplica às frases, embora a coincidência seja tanto mais difícil de conseguir quanto maior a frase; é o caso do conhecido:

SOCORRAM-ME, SUBI NO ONIBUS EM MARROCOS.

Diante do interesse pelo assunto (confesse, já leu a frase ao contrário), tomei a liberdade de selecionar alguns dos melhores palíndromos da língua de Camões...

ANOTARAM A DATA DA MARATONA

ASSIM A AIA IA A MISSA

A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA

A DROGA DA GORDA

A MALA NADA NA LAMA

A TORRE DA DERROTA

LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL É COR AZUL

O CÉU SUECO

O GALO AMA O LAGO

O LOBO AMA O BOLO

O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO

RIR, O BREVE VERBO RIR

A CARA RAJADA DA JARARACA

SAIRAM O TIO E OITO MARIAS

ZÉ DE LIMA RUA LAURA MIL E DEZ

E sabe o que é tautologia?

É o termo usado para definir um dos vícios, e erros, mais comuns de linguagem. Consiste na repetição de uma ideia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.

O exemplo clássico é o famoso 'subir para cima' ou o 'descer para baixo'. Mas há outros, como pode ver na lista a seguir:

- elo de ligação / - acabamento final / - certeza absoluta / - quantia exata / - juntamente com

- expressamente proibido / - em duas metades iguais / - sintomas indicativos / - há anos atrás

- vereador da cidade / - outra alternativa / - detalhes minuciosos / - a razão é porque

- de sua livre escolha / - superávit positivo / - todos foram unânimes / - conviver junto

- fato real / - encarar de frente / - multidão de pessoas / - amanhecer o dia / - criação nova

- retornar de novo / - empréstimo temporário / - surpresa inesperada

É de observar que todas essas repetições são dispensáveis.

Por exemplo, 'surpresa inesperada'. Existe alguma surpresa esperada? É óbvio que não.

Devemos evitar o uso das repetições desnecessárias e ficar atentos às expressões que são utilizadas no seu dia-a-dia.

E, assim, se fala em bom português, por Prof. Pasquale Neto

CONTO DE FADAS PARA AS MULHERES DO SÉCULO XXI

Por: Luís Fernando Veríssimo

Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa, independente e
cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em
como
o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades
ecológicas, se deparou com uma rã.

Então, a rã pulou para o seu colo e disse:

Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.
Uma bruxa má lançou-me um encanto e eu me transformei nesta rã asquerosa.

Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e

poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe
poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as

minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para
sempre...

Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de
um
cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria
e pensava... Nem morta!

BARTHES: TEXTO, LEITOR E LINGUAGEM

Sergio Ribeiro Granja


Autor do romance LOUCO D'ALDEIA EM DOIS TEMPOS (Record, 1996)


"A poesia não se escreve com idéias,
escreve-se com palavras."
Mallarmé


Barthes observa que "a escrita tem esse poder de operar um verdadeiro silêncio sobre a destinação". Por isso, ele a nomeia de "contra-comunicação", "cacografia".1

Com efeito, quando falamos, dizemos algo a alguém; mas, no texto literário, para quem escrevemos? O falante escolhe o seu ouvinte, ao passo que o escritor não sabe para quem escreve, nem pode ter certeza de que realmente haja alguém para quem escreva, posto que é o leitor quem escolhe o texto.

Mas, além disso, Barthes sublinha que, "no texto, só o leitor fala".2

Assim, a escrita sem leitura é como uma voz sem sonoridade. Não uma voz interior, mas uma não-fala. Sequer um silêncio significativo, mas uma ausência ignorada, já que a leitura (e cada releitura) é como o sopro inaugural que infunde o hálito da vida (ânimo, alma) à matéria inerte (modelada em significantes "com o pó apanhado do solo" - Gn 2,7).

Ao menos seis vozes (seis códigos) ouvem-se no texto: a voz do leitor, a voz da pessoa, a voz da empiria, a voz da ciência, a voz do símbolo e a voz da verdade.

Voz do leitor: "a escrita é ativa porque age pelo leitor" (lexias, quebras aleatórias do texto).3

Voz da pessoa: "o próprio da narrativa não é a acão, mas o personagem como nome próprio" (ideologia, conotações e denotações, código sêmico).4


Voz da empiria: narrativa "sequencial, simultaneamente sintagmática e ordenada" das acões (código proiarético). 5

Voz da ciência: as referências do texto (código cultural).

Voz do simbólico: a simbologia textual (código simbólico).

Voz da verdade: interpretação do texto (código hermenêutico).

Nesse emaranhado polifônico, o leitor se apropria do texto ao lê-lo, atribuindo-lhe uma sapiência. E, ao fazê-lo, frui, goza, delicia-se com o prazer da leitura, degusta o sabor do texto, decodificando-o.

"Sapiência" vem do latim sapientìa, ae, significando: sabor, bom paladar; aptidão, habilidade, capacidade, instrução; razão, bom senso; sabedoria, prudência, siso, tino; moderação, indulgência, benignidade.

Na versão de Barthes, "sapientia: nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria, e o máximo de sabor possível".6

A linguagem é a matéria-prima com a qual se produz o texto e sobre a qual se debruça o leitor. Todavia, a linguagem é ardilosa.

"O poder (a libido dominandi) aí está, emboscado em todo e qualquer discurso", aponta Barthes. E ele se indaga "sob que condições e segundo que operações o discurso pode despojar-se de todo desejo de agarrar".7 Esclarecendo: "chamo discurso de poder todo discurso que engendra o erro e, por conseguinte, a culpabilidade daquele que o recebe".8

Parafraseando Jakobson, Barthes diz que "um idioma se define menos pelo que ele permite dizer, do que por aquilo que ele obriga a dizer".9 E, mais adiante, enfático: "a língua, como desempenho de toda linguagem, não é nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente: fascista; pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer".10

Estamos condenados à articulação dos signos disponíveis na língua, segundo as regras da gramática, sob pena da incomunicabilidade: inacessibilidade, insociabilidade, intratabilidade, misantropia.

Por isso, "só resta, por assim dizer, trapacear com a língua, trapacear a língua".11

A literatura é essa trapaça da língua pela língua: ação ardilosa, de má-fé; fraude, logro. "Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura."12

E em que consiste o fazer literário, senão na tessitura de um conjunto de expressões fixadas na escrita (uma escritura?) que ganham significação ao serem lidas?

Pois é na esquiva (escusa, recusa; negação, ginga) que reside a arte da escrita: escritura. Escritura, diferente de escrituração. Escritura, modo ou arte de se expressar num texto literário. Escritura, prática da linguagem escrita por meio da qual um escritor se individualiza e afirma sua liberdade de escolha como sujeito, sua filiação estética. Sagradas escrituras...

"É no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada", ensina Barthes, "pelo jogo das palavras de que ela é o teatro". Jogar, negacear, gingar – "trabalho de deslocamento" que o escritor "exerce sobre a língua". Aí estão "as forças de liberdade que residem na literatura". O que evoca "uma responsabilidade da forma".13

Dessas forças, Barthes distingue três: Mathesis, Mimesis, Semiosis.

Mathesis: "todas as ciências estão presentes no monumento literário".14

Nesse sentido, a literatura "é absolutamente, categoricamente realista: ela é a realidade, isto é, o próprio fulgor do real" (o calor do Sol é o próprio Sol). Todavia, "ela faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza nenhum deles", pois "a literatura trabalha nos interstícios da ciência".15

"Quer ela reproduza a diversidade dos socioletos, quer, a partir dessa diversidade, cujo dilaceramento ela ressente, imagine e busque elaborar uma linguagem limite, que seria o seu grau zero", a literatura "encena a linguagem, em vez de, simplesmente, utilizá-la". É nessa encenação que, "através da escritura, o saber reflete incessamente sobre o saber".16

Saber vem do latim sapìo, is, ùi ,ívi (ou ìi e í), ère, significando: ter sabor, ter bom paladar, ter cheiro, sentir por meio do gosto, ter inteligência, ser sensato, prudente, conhecer, compreender, saber.

De modo que "a escritura faz do saber uma festa", posto que ela "se encontra em toda parte onde as palavras têm sabor".17

Mimesis: recriação, na obra literária, da realidade.

Barthes formula o paradoxo da literatura: "não se pode fazer coincidir uma ordem pluridimensional (o real) a uma ordem unidimensional (a linguagem)".18 Por isso, além de ser "categoricamente realista", a literatura também é obstinadamente irrealista: "ela acredita sensato o desejo do impossível". Para Barthes, "essa função, talvez perversa, portanto feliz, tem um nome: é a função utópica".19

Porém, "a utopia da língua é recuperada como língua da utopia", e aí não resta ao autor "senão o deslocamento – ou a teimosia – ou os dois ao mesmo tempo".20 Teimar é "manter ao revés e contra tudo a força de uma deriva e de uma espera". Deslocar-se é "transportar-se para onde não se é esperado, ou ainda e mais radicalmente, abjurar o que se escreveu (mas não, forçosamente, o que se pensou)".21

Semiosis: "a terceira força da literatura, sua força propriamente semiótica, consiste em jogar com os signos em vez de destruí-los, em colocá-los numa maquinaria de linguagem cujos breques e travas de segurança arrebentaram, em suma, em instituir no próprio seio da linguagem servil uma verdadeira heteronímia das coisas".22

Mathesis, Mimesis, Semiosis – o prazer do texto. Vários prazeres, o prazer é plural: jogar com o saber, a realidade, os signos – o prazer lúdico; ironizar o saber, a realidade, os signos – o prazer satírico; sensualizar o saber, a realidade, os signos – o prazer erótico; etc.

Barthes observa que "se leio com prazer essa frase, essa história ou essa palavra, é porque foram escritas no prazer".23 Porém, a recíproca nem sempre é verdadeira: escrever no prazer não garante o prazer do leitor.


O escritor não escreve para um leitor determinado, mas para um leitor hipotético. É a este (e não àquele) que ele busca incessantemente como "a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja um jogo".24

Jogatina, o prazer do jogo. Porque fora do prazer de escrever, o que há é a tagarelice. E "a tagarelice do texto é apenas essa espuma de linguagem que se forma sob o efeito de uma simples necessidade de escritura". 25

O texto-tagarelice é "um texto frígido, como o é qualquer procura, antes que nela se forme o desejo, a neurose". 26

Desejo – obscuro objeto que se desloca, escapa, não se deixando agarrar.

O escritor deve provar que deseja o leitor, precisa desesperadamente fazer-se merecedor dele, seduzi-lo. "Essa prova existe: é a escritura." Escritura: "ciência das fruições da linguagem".27

A escritura é o compromisso que o texto encena entre duas margens: "uma margem sensata, conforme, plagiária (trata-se de copiar a língua em seu estado canônico, tal como foi fixada pela escola, pelo uso correto, pela literatura, pela cultura), e uma outra margem, móvel, vazia (apta a tomar não importa quais contornos) que nunca é mais do que o lugar de seu efeito: lá onde se entrevê a morte da linguagem".28

Mas o prazer do texto não se frui numa margem nem noutra. Pois o prazer é "o lugar de uma perda, é a fenda, o corte, a deflação, o fading que se apodera do sujeito no imo da fruição".29 "É a intermitência, como o disse muito bem a psicanálise, que é erótica". O que seduz é "a encenação de um aparecimento-desaparecimento".30

Voyeurismos – dois regimes de leitura: "uma vai direto às articulações da anedota, considera a extensão do texto, ignora os jogos de linguagem"; ao passo que "a outra leitura não deixa passar nada".31 Barthes observa que "esta segunda leitura, aplicada (no sentido próprio), é a que convém ao texto-moderno, ao texto-limite".32 Posto que "a fenda das duas margens, o interstício da fruição, produz-se no volume das linguagens, na enunciação, não na seqüência dos enunciados".33

Voyeurismos – texto de prazer, texto de fruição. Texto de prazer, prazer do texto (contentamento).


"Texto de prazer: aquele que contenta, enche, dá euforia; aquele que vem da cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável de leitura."34

Texto de fruição, fruição do texto (desvanecimento).

"Texto de fruição: aquele que põe em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até um certo enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas do leitor, a consistência de seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz entrar em crise sua relação com a linguagem." 35

Essa distinção entre o texto que conforta e o que desconforta, já a encontramos no barroco luso-brasileiro: em 1655, no Sermão da Sexagésima, o Padre Antônio Vieira ensinava que "quando o ouvinte vai do sermão para casa confuso e atônito, sem saber parte de si, então é a pregação que convém".36

Texto que desconforta: inversão de paradigma.

Nas palavras de Vieira:

"Semeadores do Evangelho, eis aqui o que devemos pretender nos nossos sermões: não que os homens saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si; não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições, e enfim, todos os seus pecados. Contanto que se descontentem de si, descontentem-se embora de nós."37

Pecado – desconforto do texto que semeia culpas com base em verdades (modelos eternos e perfeitos): escritor-demiurgo.

Texto de fruição – outro paradigma: deslocamentos, dúvidas, imprecisões.

Texto que desconforta – novo paradigma: para Barthes, "é chamado escritor, não aquele que exprime o seu pensamento, sua paixão ou sua imaginação por meio de frases, mas aquele que pensa frases".38 Frases que instaurem a incerteza. (O que equivale a um programa.)

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Referência bibliográfica:
1 BARTHES, Roland. S/Z. Edições 70, p. 114.
2 Idem, p. 115; 3 Idem, p. 115.
Lexia: unidade do léxico (vocábulos, expressões idiomáticas, locuções etc.).
4 Idem, p. 143.
Sema: cada unidade mínima de significação, que, combinada com outras, define o significado de morfemas e palavras; traço semântico, componente semântico.
5 Idem, p. 152; 6 BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, p. 47.
7 Idem, p. 10; 8 Idem, p. 11; 9 Idem, pp. 12-13.
10 Idem, p. 14; 11 Idem, p. 16; 12 Idem, p. 16.
13 Idem, p. 17; 14 Idem, p. 18; 15 Idem, p.18.
16 Idem, p. 19; 17 Idem, p. 21; 18 Idem, p. 22.
19 Idem, p. 23; 20 Idem, pp. 25-26; 21 Idem, pp. 26-27.
22 Idem, pp. 28-29.
24 Idem, p. 9; 25 Idem, p. 9; 26 Idem, p. 10.
27 Idem, p. 11; 28 Idem, p. 12; 29 Idem, p. 12.
30 Idem, p. 16; 31 Idem, p. 19; 32 Idem, p. 19.
33 Idem, p. 19; 34 Idem, p. 20; 35 Idem, pp. 20-21
36 VIEIRA, Antônio. Sermões escolhidos. São Paulo: MartinClaret, 2003, Sermão da Sexagésima ou do Evangelho, p. 109.
Segundo Afrânio Coutinho, o Padre Antônio Vieira é "um grande da literatura brasileira e não da portuguesa, que nada tem a ver com o barroco". [A Literatura no Brasil, vol. 6, p. 310]
37 Idem, p. 109.
38 BARTHES, Roland. O prazer do texto. 3ª ed., São Paulo: Perspectiva, 2002, p. 61.



Língua Portuguesa ... Uma pergunta, uma senhora resposta...

Pergunta:

Alguém sabe me explicar, num português claro e direto, sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão "no frigir dos ovos"?

Resposta:

Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como rapadura é doce, mas não é mole, nem sempre você tem ideias e pra descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa.

E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas.

Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.

Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe. Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.

Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai com muita sede ao pote. Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.

Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese... etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com cara de quem comeu e não gostou.

O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é tudo farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente.

Por outro lado se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco...

A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois quando se junta a fome com a vontade de comer as coisas mudam da água pro vinho.

Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda.

Cartas


O trecho transcrito abaixo refere-se a uma carta que o poeta Mário de Andrade enviou à pintora Anita Malfati, no dia em que ela viajou para fazer um curso de cinco anos na Europa.

S. Paulo 21 de Agosto

Querida amiga:

Estás a partir talvez a esta hora.. E eu te escrevo. Escrevo-te com a alma saudosa, desejosa de tua companhia. E ainda te escrevo porque é a única maneira de me perdoar a mim mesmo da pena que me fiz. Não imaginas a dor que senti quando, ao chegar à estação, vi que o trem já tinha partido. Uma surda raiva contra as circunstâncias me estonteou. Mandei-te aquele telegrama tristonho e fui distrair-me, a vagar por aí, sem nexo, sem direção. Os amigos virão aqui à noite. É terça-feira. Mas perdura a amarga decepção de não ter podido te abraçar mais uma vez. Perdoa. Mas, Anita, acredita: como é meu costume chego sempre tarde à estação. Bem: adeus. Rasga esta carta louca. Sê feliz. Um longo, longo, longo abraço.

Mário.


domingo, 2 de outubro de 2011


Dia Mundial do Idoso: direito ao respeito


Por: Selma Pupim


João Paulo II costumava perguntar: “O que é a velhice? E respondia: A velhice é o tempo favorável para se cultivar, ainda e muito, a sabedoria do coração.”


Idosos, sim! Velhos, não! É nesse contexto que o mundo comemora hoje, 01 de outubro, o Dia Internacional do Idoso. Em todo país, uma infinidade de atividades e ações educativas consolida esta data tão importante para essa população cheia de esperança e que celebra cada conquista.


Sem dúvida, quem já viveu décadas e exala experiência e sabedoria, merece viver no seio de sua família com total assistência, amparo e sem discriminação de qualquer natureza.


Os Conselhos Municipais do Idoso integra uma série de atividades com foco na sensibilização contra a violência, maus tratos, abandono ao idoso e pela garantia de seus direitos. Muitas conquistas tem marcado essa árdua luta e, muito mais do que viver mais, o objetivo maior centra-se na qualidade de vida dessa faixa etária.


É sabido que os idosos estão envelhecendo mais e as suas necessidades também são acrescidas. E, se neste cenário, não existirem políticas públicas realmente eficientes, eles ficarão totalmente desassistidos. As pesquisas apontam que em 2025 o país abrigará mais de 32 milhões de idosos. Assim, é preciso estruturar os serviços de saúde, lazer, educação, assistência social, de transporte, mobilidade, dentre outras.


Desse modo, a expectativa de vida cresce de forma acelerada e no atual cenário, faz-se necessário implementar ações para dar suporte a essa nova geração e assegurar a proteção social, a assistência a longo prazo e o acesso à saúde pública representando mais oportunidade e, sobretudo, respeito a esse eterno aprendiz.


Parabéns a todos os IDOSOS!


O Gênero Parábola

As Parábolas de Jesus

O termo parábola origina-se do grego parabolé, cujo sentido é comparar e servir como ilustração de uma verdade. A palavra é definida, por estudiosos, como narrativa breve de sentido alegórico e moral e sua doutrina é universalmente conhecida.

Segundo o professor Marco Antônio Domingues Sant´Anna, em seu artigo, O discurso da parábola:

O vocábulo parábola é uma tradução portuguesa do original grego parabolé. Etimologicamente, a forma verbal de onde se originou o termo parabolé pertencia a um domínio bem diferente daquele em que se tem usado a forma atual. Paraballó significava “jogar forragem”, “dar forragem para alimentar cavalos” que, por sua vez, passou, posteriormente, a indicar o ato de se “jogar ao lado”, ou “em paralelo com”. Foi a partir da analogia com essas ações corriqueiras de se “colocar algo ao lado de alguém ou de alguma coisa”, que a retórica clássica designou para parabolé o significado de “comparação”, de “discurso alegórico”. (p. 3) [6]

As parábolas são histórias extraídas de um mundo existencial que retratam a vida diária e, por meio da qual, o criador transmite o propósito de um ensinamento para seus discípulos, seguidores e ouvintes. A parábola, ainda, se configura como uma narrativa amimética nas categorias de tempo, personagens e espaço.

Diante da amplitude de seus conhecimentos, Jesus era capaz de ministrar a todas as camadas sociais, pois falava a linguagem popular e atingia desde os mais simples e pouco letrados aos mais cultos e portadores de cultura privilegiada, uma vez que os temas de seus ensinamentos destinavam-se a toda classe de leitores interessados na compreensão dessa literatura simples e, ao mesmo tempo, complexa.

Embora as parábolas sejam histórias cotidianas, nem sempre são compreendidas; por vezes, sua essência permanece oculta até que nossos olhos se abram e possamos vê-la claramente.

Segundo, Joachim Jeremias, “As Parábolas constituem uma peça da rocha primitiva da tradição”. (p. 6) Ainda, assegura que, estamos diante de uma herança cultural fiel e em imediata proximidade de Jesus quando lemos as parábolas.

Para o renomado teólogo, Simon J. Kistemaker, “Jesus desenhava quadros verbais que retratavam o mundo ao seu redor. Ensinando através das parábolas, ele descrevia aquilo que acontecia na vida real provocando um impacto que precisava de tempo para ser entendido e assimilado”. (p. XV) [7]

Um outro fator que deve ser observado, diz respeito à fala de Jesus às multidões, que vinham em milhares até à praia; para se dirigir a tamanha quantidade de pessoas, Jesus valeu-se de um púlpito flutuante e sentando-se num barco um pouco afastado da margem, a superfície da água refletia sua voz, que num dia calmo chegava aos seus ouvintes.

Nessas narrativas, Jesus utilizou muitas metáforas, as quais nunca se afastaram da realidade; por meio da comparação os exemplos eram fundamentados em uma vivência para transmitir um episódio. Assim, essa forma de apresentar os fatos revela a sua estratégia no sentido de cativar e convencer os seus ouvintes.

A Parábola do Semeador

(Mateus 13: 1-9)

Naquele mesmo dia, saindo Jesus de casa, assentou-se a beira-mar; e grandes multidões se reuniram perto dele, de modo que entrou num barco e se assentou; e toda a multidão estava em pé na praia. E de muitas cousas lhes falou por parábolas, e dizia: Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e, vindo as aves a comeram. Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol a queimou; e porque não tinha raiz, secou-se. Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra, enfim, caiu em boa terra, e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta por um. Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça.

ALMEIDA, João Ferreira. (Trad) A Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Brasília – DF: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.


A explicação da parábola

Para o teólogo Simon J. Kistemaker, nem sempre é simples classificar uma parábola, pois algumas delas apresentam características que se enquadram em grupos distintos. O autor classifica a narrativa em estudo no grupo das Parábolas Autênticas, que utilizam como ilustração um fato comum.
Quanto à sua interpretação, alguns princípios básicos relacionados à história, à teologia dos textos bíblicos, à estrutura literária e gramatical contribuem para o intérprete encontrar os seus pontos fundamentais.Outro aspecto relevante são os modos e tempos verbais empregados pelo evangelista, pois são muito significativos e lançam luz sobre o principal ensinamento da história.

Assim, as palavras e termos constituem partes essenciais do processo de interpretação desses textos, assim como, as introduções e, especialmente, as conclusões, contêm as diretrizes que auxiliam para uma compreensão adequada.Assim sendo, qualquer pessoa apreende a verdade transmitida, uma vez que, no caso da parábola em questão, “todos já viram uma semente germinar”.

A parábola em estudo pode ser dividida em três partes: a primeira consiste na narração de Mateus, versículos 1-2, que apresenta os fatos “Naquele mesmo dia, saindo Jesus de casa [...] E de muitas cousas lhes falou por parábolas, e dizia [...]”.O discurso que antecede a parábola em análise apresenta um relato pronunciado pelo narrador, que ao mencionar “Naquele mesmo dia...”, deixa indícios de que Jesus já havia saído para pregar, ou seja, naquele mesmo dia havia falado ao seu povo.

No que diz respeito ao tempo, verificamos que a indeterminação também é empregada nessa categoria da narrativa sem estabelecer qualquer precisão cronológica, o período citado, “mesmo dia”, não apresenta correspondência histórica, isto é, não está evidenciado quando se deu a ação narrada.

Com relação ao espaço, verificamos por meio das orações que se seguem, as descrições dos lugares “... saindo Jesus de casa, assentou-se a beira-mar”; “... entrou num barco... e toda a multidão estava em pé na praia.” (grifo nosso). A referência a esses lugares facilita a identificação e a formação da imagem da situação narrada, porém, trata-se apenas de um lugar a beira-mar, sem qualquer traço que o identifique.

Quanto aos personagens, a história menciona Jesus e a figura do semeador sem nenhuma descrição pormenorizada. Cumpre assinalar, ainda, que essas características conferem a universalidade ao texto.

Na seqüência, temos a parábola narrada por Jesus, versículos 3-8. Voltando a atenção para a frase utilizada pelo narrador: “E de muitas cousas lhes falou por parábolas...”, podemos deduzir que, para Jesus, a lição por meio da parábola se tornava mais significativa e compreensível. O vocábulo cousas, situado como coisa, no dicionário Aurélio, representa objeto inanimado; o que existe ou pode existir; realidade; fato; mistério. Assim como, no Houaiss, tudo o que existe ou pode existir; qualquer ser inanimado; realidade; fato concreto.

Aproximando os discípulos de Jesus, lhe perguntaram: “Por que lhes falas por parábolas”? Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido. Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem até o que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem.

A todos os que ouvem a palavra do reino, e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado à beira do caminho. O que foi semeado em solo rochoso é aquele que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo antes de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza. O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra; porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera. Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um.

Isso permite compreender, que os que praticam a vontade de Deus recebem a mensagem das parábolas, porque pertencem à família de Jesus e os que tentam destruí-lo não conhecem a salvação, pela dureza de seus corações. Visto dessa forma, os que acreditam ouvem as parábolas e as recebem com fé e entendimento, mesmo que a completa compreensão venha gradualmente.

Por fim, a partir da divisão acima apresentada, o desfecho da parábola se dá com a frase final: “Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça”.

As narrativas bíblicas caracterizam um relevante papel na arte literária. Estudiosos da Bíblia afirmam que não são necessárias leituras contínuas desses textos sagrados, uma vez que a arte narrativa do texto bíblico, com uma dimensão literária essencial e um longo caminho a percorrer.

Os textos bíblicos foram considerados, durante séculos, por cristãos e judeus, como fonte única de manifestação divina. Essa crença da história religiosa, alicerçada num propósito de devoção, conduziu para uma interpretação puramente teológica, provocando a ausência de estudos literários nessa área. Nesse momento, os estudos de textos religiosos demonstram a transposição do contexto bíblico para uma perspectiva literária mais ampla, sob novos enfoques, sem interferências na vida cristã do leitor.

Estudiosos constataram que algumas particularidades, quanto à forma, como a parábola é organizada, a escolha exata das palavras, os detalhes e o ritmo da narração conferem a esse gênero uma dimensão literária dotada de uma linguagem intensificada, repetições verbais e peculiaridades sintáticas empregadas com o objetivo de atrair os ouvintes, conduzi-los ao arrependimento e à fé, transformando palavras em atos.

Os primeiros movimentos da moderna crítica bíblica tiveram início no século XIX e, embora, três milênios nos separam das origens desses manuscritos, a Bíblia vem sendo estudada há milhares de anos. Muitos eruditos fizeram progredir a nossa compreensão em relação a esses textos por meio de uma diversidade de instrumentos, que possibilitam desvendar os sentidos originais das palavras bíblicas. Sendo assim, estudiosos têm lido a poesia bíblica guiados por uma expressiva grandeza intelectual.

Nesse mesmo sentido, Benjamim Hrushovski, considerado uma autoridade no campo da poética e da literatura comparada considera o versículo bíblico “como um ritmo semântico-sintático-métrico”. (p. 14) [1] O autor, em sua análise, consegue transpor gerações de desordem e oferecer uma exposição geral da prosódia bíblica, ao mesmo tempo, plausível e elegantemente simples.

Nos últimos anos, têm sido expressivo o interesse pelos estudos literários bíblicos, algumas apreciações dessa escrita são de autoria de literatos como, Mark Van Doren, Maurice Samuel e Mary Ellen Chase. Pela perspectiva literária de Erich Auerbach, a narrativa bíblica é um reflexo de profunda arte e “constitui um texto propositadamente parcimonioso e repleto de segundos planos”. (p. 17) [2]

A fusão da arte literária e visão teológica foram abordadas por Joel Rosenberg, um jovem estudioso e poeta norte-americano, que por meio de uma perspectiva literária confere “O valor da Bíblia como documento religioso estando íntima e inseparavelmente relacionado com seu valor como literatura”. (p. 19) [3]

Em seus estudos, o autor Dominique Maingueneau ressalta que toda obra é composta por uma multiplicidade de outras. Assim, “A intertextualidade é a presença de outros textos em uma obra [...] todo livro recorre a outros livros, absorve, transforma e recria por meio do diálogo com outras obras” [4]. Por tudo isso, os textos bíblicos estão presentes direta e indiretamente nos mais diversificados gêneros. Os estudos e as leis do judiciário recorrem aos textos sagrados se nutrindo de uma multiplicidade de fundamentos religiosos.

Tendo em vista esses apontamentos, o autor Adriano Marrey, em sua obra Teoria e Prática do Júri, faz referência aos doze apóstolos de Jesus, na Antiguidade, para sentenciar um litígio ou uma questão judiciária na lei dos homens:

Nossa civilização decidiu, e decidiu bem. Com muito acerto, que determinar a culpa ou inocência dos homens é coisa demasiadamente importante para ser entregue a homens treinados. Quando deseja luz sobre essa terrível matéria, ela recorre a homens que não sabem de leis mais que eu, mas são capazes de sentir as coisas que senti no recinto dos jurados. Quando quer catalogar uma livraria, ou descobrir o sistema solar, ou qualquer ninharia dessa espécie, ela utiliza seus especialistas. Mas quando deseja que se faça algo realmente sério, reúne a esmo 12 homens comuns. A mesma coisa foi feita, se bem me lembro, pelo Fundador da Cristandade. (grifo nosso) [5]

O Ato de Semear

O verbo semear, no dicionário Hoauaiss significa: lançar sementes de vegetal para que germinem; espalhar; propagar uma notícia. Em outra fonte, no dicionário Aurélio é sinônimo de deitar ou espalhar sementes para germinarem; fazer a semeadura. No entanto, o semeador utilizou a forma verbal caiu; em nenhum momento fora citado o verbo plantar durante todo o percurso. Isso leva a inferir que, aquele que tem a intenção de colher e não sofrer perdas, iria plantar e não deixar cair.

O contexto consiste num cenário significativo para a interpretação de uma parábola. Um exemplo disso se observa na provável inabilidade ao semear, a ponto de pôr a perder uma grande quantidade de semente.

Contudo, a descrição da técnica de semear que nos é habitual, difere da realidade daquele lugar. Na Palestina, a semente é lançada ao solo antes de prepará-lo, ou seja, antes de arar a terra. Nesse sentido, o semeador da parábola passa pelo campo não preparado, ainda com entulhos e semeia pelo caminho. Portanto, o que ao ocidente parece falta de habilidade, é comum para o povo palestino. Para, Joachim Jeremias:

Vê-se então por que ele semeia no caminho: é de propósito que ele lança a semente no caminho, isto é, no trilho que os camponeses, de tanto passar, formaram no meio da antiga roça, pois também o trilho deverá ser arado. É também de propósito que ele semeia entre os espinhos secos espalhados pelo chão não lavrado, pois também eles serão revirados quando o arado passar. Também não é mais de se estranhar que os grãos caiam em chão rochoso, pois as rochas calcáreas, recobertas por uma fina camada de terra, dificilmente se distinguem do campo cheio de restolho, antes de os discos do arado rangerem de encontro a elas. (p. 8) [1]

O semeador da parábola é um camponês palestinense que semeia e colhe, sendo que o destino da semeadura é descrito, para dar à história maior vivacidade, torná-la mais verossímil.

Os estudos de Simon J. Kistemaker revelam que, embora a parábola não nos conte nada a respeito de métodos de cultivo, na parábola de Jesus, o lavrador partiu para o campo levando seu suprimento de grãos numa bolsa que trazia a tiracolo e com passos ritmados lançava as sementes pelo campo sem se preocupar com os poucos grãos que caíam à beira do caminho, nem tampouco com os que eram lançados em terra pouco profunda e sobre as rochas; para o lavrador aquilo fazia parte de seu dia de trabalho.

Visto dessa forma, alguns pormenores não são fatores determinantes na composição de uma parábola, alguns detalhes não são, por demais, significativos perante o que se pretendia ensinar.

Sendo assim, a importância recai sobre a última pessoa mencionada, o último feito ou a última declaração, o que importa é o efeito final, “a colheita”, e não as eventuais perdas. Dessa maneira, o episódio mais significativo da história é o fato de que um camponês semeia e ceifa. A ênfase dada quanto às possíveis dificuldades enfrentadas pelas sementes e com o posterior êxito da colheita indica confiança no futuro, direcionar o olhar do presente para o futuro, do tempo de semear para a colheita, do princípio para a sua consumação.

Para o autor Norman Perrin, não há razões convincentes para duvidar da autenticidade dessa parábola, ela reflete a prática palestinense de não arar antes de semear. Contudo lança um questionamento:

Qual é então o significado de uma história de um camponês palestinense que espalha uns punhados de semente e, apesar de todas as vicissitudes agrárias daquele tempo e lugar, colhe uma fartura de espigas? Certamente o que interessa é o contraste entre presente e futuro: No presente, perdão, mas também tentação; aqui e agora, comunhão de mesa em nome do Reino de Deus, mas somente em antecipação da sua plena salvação final. Tempo de semear e ceifar são metáforas judaicas bem conhecidas para a obra de Deus no mundo e sua consumação. (p. 192-193) [2]

Portanto, A Parábola do Semeador é descrita como uma parábola de contraste, pois descreve a semeadura e a fase final representada pela colheita.

Jesus se deparou com descrença, blasfêmia e oposição à sua palavra, existiam entre os seguidores aqueles que acreditavam e os que rejeitavam. Diante desses fatos não surpreende que alguns discípulos não tenham entendido completamente a parábola do semeador.

Os incrédulos rejeitam as parábolas porque elas são estranhas à sua maneira de pensar e recusam-se a perceber e entender a verdade de Deus, logo, por causa de seus olhos cegos e seus ouvidos surdos, privam a si mesmos da salvação proclamada pelo criador.

Sendo assim, é possível constatar que, não fica claro se a frase final fora proferida por Jesus ou por Mateus: “Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça”.

Em suma, a mensagem dessa parábola comprova o mais admirável dos ensinamentos religiosos: fé e confiança no futuro.

Dessa forma, Jesus lhes falou sobre fatos, realidade e semear, no sentido de espalhar “a palavra”. A idéia fundamental da parábola parte do princípio de que quem ouve a palavra de Jesus e a entende frutifica e produz. E em todos os corações foram lançadas a mesma semente: a do Evangelho e, da mesma forma, que as sementes caem em terrenos inférteis, quando a palavra divina se apresenta diante de um coração sem fé não frutifica.

Essas considerações sobre a parábola, não constituem uma análise exaustiva do texto, e sim uma investigação minuciosa que procura cuidadosamente a arte literária do texto bíblico. O processo de análise desses textos requer uma contínua revisão no sentido de avaliar múltiplas possibilidades de informação e perceber as sutilezas da forma, as complexidades da narrativa, a técnica ficcional, o uso engenhoso da linguagem e outras estratégias.

Em suma, as parábolas anunciam a verdadeira crença da humanidade; assim, a estrutura do texto em estudo revela a mão habilidosa de um arquiteto literário; o evangelista preparou a cena para a parábola do semeador com o objetivo de alertar seus ouvintes para a inesperada colheita arrecadada no reino de Deus.



[1] Joaquim JEREMIAS, As Parábolas de Jesus, p. 8.

[2] Norman PERRIN, O Que Ensinou Jesus Realmente?, p. 192-193.

[1] Benjamim HRUSHOVSKI, (Apud Alter R., 1998. p. 14)

[2] Ibid., p. 17.

[3] Ibid., p. 19.

[4] Dominique MAINGUENEAU, Discurso Literário: Posicionamento, arquivo e gêneros, P. 165

[5] Adriano MARREY, Teoria e Prática do Júri, p. 107.

[6] Marco Antônio Domingues Sant´Anna, O discurso da parábola, p. 3.

[7] Simon J. KISTEMAKER, As Parábolas de Jesus, p. XV.