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sábado, 1 de outubro de 2011



Fazer o bem é bom

Há três anos, aconteceu um grave acidente automobilístico com alguns jovens de nossa cidade, após a festa de encerramento dos atiradores do Tiro de Guerra. Após a festa de encerramento, meu filho, também atirador, saiu para comemorar a sua formatura. Recomendei a ele que não misturasse bebida e direção, contudo aquela noite não preguei os olhos, quando ele chegou, por volta das 6 horas da manhã, soube do acidente com os meninos e, mais tarde tomei conhecimento de que um deles, com apenas 16 anos, amigo de um dos atiradores, ficara tetraplégico.

A partir deste dia, acompanhei a difícil episódio que acontecera com o Felipe; embora não tivesse contato com a sua família, sempre procurava me informar sobre as suas condições. Minha filha, enfermeira do Hospital onde Felipe ficou internado durante algum tempo me dissera que ele mexeria apenas os olhos e isso me deixava inconformada, poderia ter sido meu filho e aquela mãe deveria estar sofrendo muito ao ver seu filho naquele estado.

Começaram as orações, as campanhas e correntes em prol de seu restabelecimento, mas o Felipe só piorava, até que foi transferido para Bauru e depois Brasília.

Assumi um compromisso comigo mesma que quando ele retornasse do tratamento eu iria ler para ele. O meu pensamento estava sempre com ele, me incomodava o fato de saber que ele não poderia fazer nada além mexer os olhos, um menino de 16 anos ver a vida passar sobre uma cama.

Passei uma mensagem para sua mãe, dizendo que quando ele retornasse eu gostaria de ajudá-lo. Como professora de Língua Portuguesa, eu poderia ler para ele. Passaram-se alguns anos e às vezes tinha alguma notícia de sua recuperação.

Foi quando um dia, recebi uma mensagem de sua mãe, dizendo que o Felipe estava de volta e como eu havia me oferecido para ajuda-lo, se poderia fazê-lo neste momento. Prontamente, disse que sim e me comprometi a visita-lo no sábado próximo.

Confesso que me senti insegura, não era uma profissional de Educação Inclusiva e não sabia como me comportar com ele e nem como começar a ajuda-lo, a mãe pediu que eu o ajudasse a escrever. Não sabia como fazê-lo e recorri a alguns profissionais, na época e ninguém soube me responder como tratar e reabilitar um tetraplégico. Como não sabia as suas reais condições, busquei auxílio pela Internet, procurei tudo sobre tetraplégicos, reabilitação motora e orientações de como me comportar.

Foi quando me deparei com Marina Almeida por meio do seu blog Inclusão Brasil, a primeira coisa que meus olhos viram foi:


"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois".(Arthur da Távola)

Solicitei algumas informações e ela que, prontamente, foi me passando todas as informações e respondendo todos os meus e-mails.

A partir desse dia, minha vida tomou outro rumo, não sabemos quem dos dois esperava mais pelo dia da aula, se ele ou eu. Não era sacrifício nenhum dar aulas para o Felipe, ele é o aluno que toda professora gostaria de ter. Para um professor, nada é mais gratificante do que ver em seu aluno a sede de conhecimento. Assim é o Felipe, ele sempre quer mais, quer aula, quer lição, quer prova, quer leituras, é bem-humorado e acredita na sua recuperação. Por sua vez, eu buscava todas as informações sobre casos como o dele e levava artigos, notícias, pesquisas; recentemente, vimos a descoberta do Dr. Miguel Nicolelis, que já conversou pessoalmente com o Felipe; agora o Felipe iniciou um tratamento de choque. O Felipe acaba de concluir o Ensino Médio e pretende fazer o Vestibular ainda este ano. Vamos iniciar a sua preparação para o Vestibular FATEC.

Fazer o bem é bom! Fazer o bem é gratificante!

Junho/2010

E essa história não termina aqui. Atualmente, passados mais de 2 anos, o Felipe cursa o 3º termo de Tecnologia de Informação, na FATEC Ourinhos. Vale lembrar que o Felipe foi aprovado em 2º lugar no Vestibular e, segundo seus professores, é o melhor aluno da sua turma. Parabéns Felipe!

Outubro/ 2012

Por: Selma Pupim