Total de visualizações de página

domingo, 9 de outubro de 2011

As dez lições de Steve Jobs

Trajetória profissional brilhante e história pessoal de dramas e superação têm muito a ensinar

iG São Paulo | 09/10/2011 19:05


Steve Jobs foi um homem brilhante. Em mais de 30 anos de carreira, o cofundador da Apple sempre foi referência em inovação e design de produtos de tecnologia.

Foto: Getty Images Ampliar / Steve Jobs

Sua contribuição para a humanidade tem sido comparada à de Thomas Edison, Henry Ford e outros visionários que mudaram o mundo.

1- As inovações mais permanentes unem arte e ciência

Esse foi o grande diferencial da Apple em relação às concorrentes. Em sua equipe, Jobs sempre teve pessoas com formações em áreas como antropologia, arte, história e poesia. Ele foi mestre em aliar às novidades tecnológicas a um design simples e interessante, que foi a chave de seu sucesso.

2- Para criar o futuro, ouvir o cliente é perda de tempo

A teoria diz para testar produtos em fase de desenvolvimento com seus clientes antes de lançá-los no mercado. Jobs sempre achou isso uma perda de tempo. Consumidores nem sempre sabem o que querem – ainda mais se é algo que nunca viram, ouviram ou tocaram. Jobs confiava mais em si mesmo.

3- Nunca tenha medo de fracassar

Ser demitido da empresa que criou por um funcionário que ele mesmo contratou foi uma das situações mais embaraçosas no mundo dos negócios das últimas décadas. Mas nem por isso Jobs desistiu, mas continuou a seguir seus sonhos. Também foi incansável na luta contra a vida, desde que foi diagnosticado oito anos atrás com câncer de pâncreas.

Ele aprendeu a viver cada dia com coragem e lutar por sua paixão, conforme pode ser visto em um emocionante discurso que Jobs fez a alunos da Universidade de Stanford, em 2005.


4- As coisas ficam mais claras com o tempo

O executivo aprendeu a não se preocupar tanto com imprevistos e coisas que pareciam não dar certo em sua vida. Nem sempre é possível entender de antemão os motivos, mas com o tempo fica mais fácil “ligar os pontos”. Na realidade, esses imprevistos podem se tornar nas sementes de um sucesso imenso no futuro.

5- Escute sua voz interior

Jobs foi um homem que seguiu sua voz interior. Ele tinha um plano e lutava por isso. Queria construir computadores. Muitos se contentam com uma profissão para agradar aos pais ou porque o salário é bom. Jobs não. Fez o que amava e mudou o mundo com isso. Nem sempre é fácil ter coragem para enfrentar o mundo e correr atrás dos sonhos. Mas pode valer a pena.

6- Espere muito de si mesmo e dos outros

O cofundador da Apple não era exatamente “bonzinho”. Quem trabalhou com ele conta que Jobs costumava gritar com funcionários. Era um controlador, um perfeccionista. Ele era apaixonado pelo que fazia e por isso queria o melhor dele mesmo e dos outros. Se não fossem capazes de dar o melhor, que fossem embora – ele não queria pessoas assim por perto.

7- Não se preocupe em estar certo. Preocupe-se em ser bem-sucedido

O exemplo de Jobs mostra que não se pode estar tão preocupado com a sua visão sobre como um produto vai funcionar, a ponto de esquecer a realidade. Estar certo sobre um assunto não é o mais importante. O fundamental é reconhecer quando algo precisa ser feito de algo para poder ser um sucesso. Se não abrisse mão de algumas de suas “verdades”, a Apple nunca teria conseguido lançar o Mac.

8- Esteja sempre cercado de pessoas talentosas

Pode até parecer, mas a Apple não é Steve Jobs. O executivo se cercou de pessoas muito talentosas, que não recebem o crédito que merecem. O fato de que o preço das ações da Apple continua a se sustentar desde que o executivo teve de renunciar ao comando da companhia mostra a força da equipe.

9- Continue com fome. Continue tolo

Foi com essas palavras que Jobs encerrou seu discurso aos alunos de Stanford. Ele contou que costumava ler quando era jovem a enciclopédia “The Whole Earth Catalog” (O Catálogo de toda a Terra) – uma espécie de Google dos tempos pré-internet. Na contracapa de cada livro havia uma foto de uma estrada em uma manhã ensolarada e os dizeres: “Continue com fome. Continue tolo”. “Sempre desejei isso para mim mesmo”, disse Jobs aos alunos. “E agora, eu desejo isso para vocês”.

10- Tudo é possível com trabalho árduo, determinação e visão

Embora fosse o maior CEO de todos os tempos e o pai da computação moderna, na realidade Jobs era só um homem. O que faz pensar que todos têm potencial para ser como ele. Ele fundou a Apple, depois foi demitido da empresa, voltou à companhia na hora de salvá-la da falência e fez dela um dos maiores impérios corporativos do mundo. Você também pode.

"AS PALAVRAS VOAM, A ESCRITA PERMANECE"

“VERBA VOLANT - SCRIPTA MANENT"

VOCÊ SABE O QUE É UM PALÍNDROMO?

Um palíndromo é uma palavra ou um número que se lê da mesma maneira nos dois sentidos, normalmente, da esquerda para a direita e ao contrário.

Exemplos: OVO, OSSO, RADAR. O mesmo se aplica às frases, embora a coincidência seja tanto mais difícil de conseguir quanto maior a frase; é o caso do conhecido:

SOCORRAM-ME, SUBI NO ONIBUS EM MARROCOS.

Diante do interesse pelo assunto (confesse, já leu a frase ao contrário), tomei a liberdade de selecionar alguns dos melhores palíndromos da língua de Camões...

ANOTARAM A DATA DA MARATONA

ASSIM A AIA IA A MISSA

A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA

A DROGA DA GORDA

A MALA NADA NA LAMA

A TORRE DA DERROTA

LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL É COR AZUL

O CÉU SUECO

O GALO AMA O LAGO

O LOBO AMA O BOLO

O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO

RIR, O BREVE VERBO RIR

A CARA RAJADA DA JARARACA

SAIRAM O TIO E OITO MARIAS

ZÉ DE LIMA RUA LAURA MIL E DEZ

E sabe o que é tautologia?

É o termo usado para definir um dos vícios, e erros, mais comuns de linguagem. Consiste na repetição de uma ideia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.

O exemplo clássico é o famoso 'subir para cima' ou o 'descer para baixo'. Mas há outros, como pode ver na lista a seguir:

- elo de ligação / - acabamento final / - certeza absoluta / - quantia exata / - juntamente com

- expressamente proibido / - em duas metades iguais / - sintomas indicativos / - há anos atrás

- vereador da cidade / - outra alternativa / - detalhes minuciosos / - a razão é porque

- de sua livre escolha / - superávit positivo / - todos foram unânimes / - conviver junto

- fato real / - encarar de frente / - multidão de pessoas / - amanhecer o dia / - criação nova

- retornar de novo / - empréstimo temporário / - surpresa inesperada

É de observar que todas essas repetições são dispensáveis.

Por exemplo, 'surpresa inesperada'. Existe alguma surpresa esperada? É óbvio que não.

Devemos evitar o uso das repetições desnecessárias e ficar atentos às expressões que são utilizadas no seu dia-a-dia.

E, assim, se fala em bom português, por Prof. Pasquale Neto

CONTO DE FADAS PARA AS MULHERES DO SÉCULO XXI

Por: Luís Fernando Veríssimo

Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa, independente e
cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em
como
o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades
ecológicas, se deparou com uma rã.

Então, a rã pulou para o seu colo e disse:

Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.
Uma bruxa má lançou-me um encanto e eu me transformei nesta rã asquerosa.

Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e

poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe
poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as

minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para
sempre...

Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de
um
cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria
e pensava... Nem morta!

BARTHES: TEXTO, LEITOR E LINGUAGEM

Sergio Ribeiro Granja


Autor do romance LOUCO D'ALDEIA EM DOIS TEMPOS (Record, 1996)


"A poesia não se escreve com idéias,
escreve-se com palavras."
Mallarmé


Barthes observa que "a escrita tem esse poder de operar um verdadeiro silêncio sobre a destinação". Por isso, ele a nomeia de "contra-comunicação", "cacografia".1

Com efeito, quando falamos, dizemos algo a alguém; mas, no texto literário, para quem escrevemos? O falante escolhe o seu ouvinte, ao passo que o escritor não sabe para quem escreve, nem pode ter certeza de que realmente haja alguém para quem escreva, posto que é o leitor quem escolhe o texto.

Mas, além disso, Barthes sublinha que, "no texto, só o leitor fala".2

Assim, a escrita sem leitura é como uma voz sem sonoridade. Não uma voz interior, mas uma não-fala. Sequer um silêncio significativo, mas uma ausência ignorada, já que a leitura (e cada releitura) é como o sopro inaugural que infunde o hálito da vida (ânimo, alma) à matéria inerte (modelada em significantes "com o pó apanhado do solo" - Gn 2,7).

Ao menos seis vozes (seis códigos) ouvem-se no texto: a voz do leitor, a voz da pessoa, a voz da empiria, a voz da ciência, a voz do símbolo e a voz da verdade.

Voz do leitor: "a escrita é ativa porque age pelo leitor" (lexias, quebras aleatórias do texto).3

Voz da pessoa: "o próprio da narrativa não é a acão, mas o personagem como nome próprio" (ideologia, conotações e denotações, código sêmico).4


Voz da empiria: narrativa "sequencial, simultaneamente sintagmática e ordenada" das acões (código proiarético). 5

Voz da ciência: as referências do texto (código cultural).

Voz do simbólico: a simbologia textual (código simbólico).

Voz da verdade: interpretação do texto (código hermenêutico).

Nesse emaranhado polifônico, o leitor se apropria do texto ao lê-lo, atribuindo-lhe uma sapiência. E, ao fazê-lo, frui, goza, delicia-se com o prazer da leitura, degusta o sabor do texto, decodificando-o.

"Sapiência" vem do latim sapientìa, ae, significando: sabor, bom paladar; aptidão, habilidade, capacidade, instrução; razão, bom senso; sabedoria, prudência, siso, tino; moderação, indulgência, benignidade.

Na versão de Barthes, "sapientia: nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabedoria, e o máximo de sabor possível".6

A linguagem é a matéria-prima com a qual se produz o texto e sobre a qual se debruça o leitor. Todavia, a linguagem é ardilosa.

"O poder (a libido dominandi) aí está, emboscado em todo e qualquer discurso", aponta Barthes. E ele se indaga "sob que condições e segundo que operações o discurso pode despojar-se de todo desejo de agarrar".7 Esclarecendo: "chamo discurso de poder todo discurso que engendra o erro e, por conseguinte, a culpabilidade daquele que o recebe".8

Parafraseando Jakobson, Barthes diz que "um idioma se define menos pelo que ele permite dizer, do que por aquilo que ele obriga a dizer".9 E, mais adiante, enfático: "a língua, como desempenho de toda linguagem, não é nem reacionária, nem progressista; ela é simplesmente: fascista; pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer".10

Estamos condenados à articulação dos signos disponíveis na língua, segundo as regras da gramática, sob pena da incomunicabilidade: inacessibilidade, insociabilidade, intratabilidade, misantropia.

Por isso, "só resta, por assim dizer, trapacear com a língua, trapacear a língua".11

A literatura é essa trapaça da língua pela língua: ação ardilosa, de má-fé; fraude, logro. "Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura."12

E em que consiste o fazer literário, senão na tessitura de um conjunto de expressões fixadas na escrita (uma escritura?) que ganham significação ao serem lidas?

Pois é na esquiva (escusa, recusa; negação, ginga) que reside a arte da escrita: escritura. Escritura, diferente de escrituração. Escritura, modo ou arte de se expressar num texto literário. Escritura, prática da linguagem escrita por meio da qual um escritor se individualiza e afirma sua liberdade de escolha como sujeito, sua filiação estética. Sagradas escrituras...

"É no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada", ensina Barthes, "pelo jogo das palavras de que ela é o teatro". Jogar, negacear, gingar – "trabalho de deslocamento" que o escritor "exerce sobre a língua". Aí estão "as forças de liberdade que residem na literatura". O que evoca "uma responsabilidade da forma".13

Dessas forças, Barthes distingue três: Mathesis, Mimesis, Semiosis.

Mathesis: "todas as ciências estão presentes no monumento literário".14

Nesse sentido, a literatura "é absolutamente, categoricamente realista: ela é a realidade, isto é, o próprio fulgor do real" (o calor do Sol é o próprio Sol). Todavia, "ela faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza nenhum deles", pois "a literatura trabalha nos interstícios da ciência".15

"Quer ela reproduza a diversidade dos socioletos, quer, a partir dessa diversidade, cujo dilaceramento ela ressente, imagine e busque elaborar uma linguagem limite, que seria o seu grau zero", a literatura "encena a linguagem, em vez de, simplesmente, utilizá-la". É nessa encenação que, "através da escritura, o saber reflete incessamente sobre o saber".16

Saber vem do latim sapìo, is, ùi ,ívi (ou ìi e í), ère, significando: ter sabor, ter bom paladar, ter cheiro, sentir por meio do gosto, ter inteligência, ser sensato, prudente, conhecer, compreender, saber.

De modo que "a escritura faz do saber uma festa", posto que ela "se encontra em toda parte onde as palavras têm sabor".17

Mimesis: recriação, na obra literária, da realidade.

Barthes formula o paradoxo da literatura: "não se pode fazer coincidir uma ordem pluridimensional (o real) a uma ordem unidimensional (a linguagem)".18 Por isso, além de ser "categoricamente realista", a literatura também é obstinadamente irrealista: "ela acredita sensato o desejo do impossível". Para Barthes, "essa função, talvez perversa, portanto feliz, tem um nome: é a função utópica".19

Porém, "a utopia da língua é recuperada como língua da utopia", e aí não resta ao autor "senão o deslocamento – ou a teimosia – ou os dois ao mesmo tempo".20 Teimar é "manter ao revés e contra tudo a força de uma deriva e de uma espera". Deslocar-se é "transportar-se para onde não se é esperado, ou ainda e mais radicalmente, abjurar o que se escreveu (mas não, forçosamente, o que se pensou)".21

Semiosis: "a terceira força da literatura, sua força propriamente semiótica, consiste em jogar com os signos em vez de destruí-los, em colocá-los numa maquinaria de linguagem cujos breques e travas de segurança arrebentaram, em suma, em instituir no próprio seio da linguagem servil uma verdadeira heteronímia das coisas".22

Mathesis, Mimesis, Semiosis – o prazer do texto. Vários prazeres, o prazer é plural: jogar com o saber, a realidade, os signos – o prazer lúdico; ironizar o saber, a realidade, os signos – o prazer satírico; sensualizar o saber, a realidade, os signos – o prazer erótico; etc.

Barthes observa que "se leio com prazer essa frase, essa história ou essa palavra, é porque foram escritas no prazer".23 Porém, a recíproca nem sempre é verdadeira: escrever no prazer não garante o prazer do leitor.


O escritor não escreve para um leitor determinado, mas para um leitor hipotético. É a este (e não àquele) que ele busca incessantemente como "a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute: que os dados não estejam lançados, que haja um jogo".24

Jogatina, o prazer do jogo. Porque fora do prazer de escrever, o que há é a tagarelice. E "a tagarelice do texto é apenas essa espuma de linguagem que se forma sob o efeito de uma simples necessidade de escritura". 25

O texto-tagarelice é "um texto frígido, como o é qualquer procura, antes que nela se forme o desejo, a neurose". 26

Desejo – obscuro objeto que se desloca, escapa, não se deixando agarrar.

O escritor deve provar que deseja o leitor, precisa desesperadamente fazer-se merecedor dele, seduzi-lo. "Essa prova existe: é a escritura." Escritura: "ciência das fruições da linguagem".27

A escritura é o compromisso que o texto encena entre duas margens: "uma margem sensata, conforme, plagiária (trata-se de copiar a língua em seu estado canônico, tal como foi fixada pela escola, pelo uso correto, pela literatura, pela cultura), e uma outra margem, móvel, vazia (apta a tomar não importa quais contornos) que nunca é mais do que o lugar de seu efeito: lá onde se entrevê a morte da linguagem".28

Mas o prazer do texto não se frui numa margem nem noutra. Pois o prazer é "o lugar de uma perda, é a fenda, o corte, a deflação, o fading que se apodera do sujeito no imo da fruição".29 "É a intermitência, como o disse muito bem a psicanálise, que é erótica". O que seduz é "a encenação de um aparecimento-desaparecimento".30

Voyeurismos – dois regimes de leitura: "uma vai direto às articulações da anedota, considera a extensão do texto, ignora os jogos de linguagem"; ao passo que "a outra leitura não deixa passar nada".31 Barthes observa que "esta segunda leitura, aplicada (no sentido próprio), é a que convém ao texto-moderno, ao texto-limite".32 Posto que "a fenda das duas margens, o interstício da fruição, produz-se no volume das linguagens, na enunciação, não na seqüência dos enunciados".33

Voyeurismos – texto de prazer, texto de fruição. Texto de prazer, prazer do texto (contentamento).


"Texto de prazer: aquele que contenta, enche, dá euforia; aquele que vem da cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável de leitura."34

Texto de fruição, fruição do texto (desvanecimento).

"Texto de fruição: aquele que põe em estado de perda, aquele que desconforta (talvez até um certo enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas do leitor, a consistência de seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz entrar em crise sua relação com a linguagem." 35

Essa distinção entre o texto que conforta e o que desconforta, já a encontramos no barroco luso-brasileiro: em 1655, no Sermão da Sexagésima, o Padre Antônio Vieira ensinava que "quando o ouvinte vai do sermão para casa confuso e atônito, sem saber parte de si, então é a pregação que convém".36

Texto que desconforta: inversão de paradigma.

Nas palavras de Vieira:

"Semeadores do Evangelho, eis aqui o que devemos pretender nos nossos sermões: não que os homens saiam contentes de nós, senão que saiam muito descontentes de si; não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições, e enfim, todos os seus pecados. Contanto que se descontentem de si, descontentem-se embora de nós."37

Pecado – desconforto do texto que semeia culpas com base em verdades (modelos eternos e perfeitos): escritor-demiurgo.

Texto de fruição – outro paradigma: deslocamentos, dúvidas, imprecisões.

Texto que desconforta – novo paradigma: para Barthes, "é chamado escritor, não aquele que exprime o seu pensamento, sua paixão ou sua imaginação por meio de frases, mas aquele que pensa frases".38 Frases que instaurem a incerteza. (O que equivale a um programa.)

___________________
Referência bibliográfica:
1 BARTHES, Roland. S/Z. Edições 70, p. 114.
2 Idem, p. 115; 3 Idem, p. 115.
Lexia: unidade do léxico (vocábulos, expressões idiomáticas, locuções etc.).
4 Idem, p. 143.
Sema: cada unidade mínima de significação, que, combinada com outras, define o significado de morfemas e palavras; traço semântico, componente semântico.
5 Idem, p. 152; 6 BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, p. 47.
7 Idem, p. 10; 8 Idem, p. 11; 9 Idem, pp. 12-13.
10 Idem, p. 14; 11 Idem, p. 16; 12 Idem, p. 16.
13 Idem, p. 17; 14 Idem, p. 18; 15 Idem, p.18.
16 Idem, p. 19; 17 Idem, p. 21; 18 Idem, p. 22.
19 Idem, p. 23; 20 Idem, pp. 25-26; 21 Idem, pp. 26-27.
22 Idem, pp. 28-29.
24 Idem, p. 9; 25 Idem, p. 9; 26 Idem, p. 10.
27 Idem, p. 11; 28 Idem, p. 12; 29 Idem, p. 12.
30 Idem, p. 16; 31 Idem, p. 19; 32 Idem, p. 19.
33 Idem, p. 19; 34 Idem, p. 20; 35 Idem, pp. 20-21
36 VIEIRA, Antônio. Sermões escolhidos. São Paulo: MartinClaret, 2003, Sermão da Sexagésima ou do Evangelho, p. 109.
Segundo Afrânio Coutinho, o Padre Antônio Vieira é "um grande da literatura brasileira e não da portuguesa, que nada tem a ver com o barroco". [A Literatura no Brasil, vol. 6, p. 310]
37 Idem, p. 109.
38 BARTHES, Roland. O prazer do texto. 3ª ed., São Paulo: Perspectiva, 2002, p. 61.



Língua Portuguesa ... Uma pergunta, uma senhora resposta...

Pergunta:

Alguém sabe me explicar, num português claro e direto, sem figuras de linguagem, o que quer dizer a expressão "no frigir dos ovos"?

Resposta:

Quando comecei, pensava que escrever sobre comida seria sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de certo tempo dá crepe, você percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos. Como rapadura é doce, mas não é mole, nem sempre você tem ideias e pra descascar esse abacaxi só metendo a mão na massa.

E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente, mandar tudo às favas.

Já que é pelo estômago que se conquista o leitor, o negócio é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de grão em grão que a galinha enche o papo.

Contudo é preciso tomar cuidado para não azedar, passar do ponto, encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe. Afinal não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.

Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca de criança e vai com muita sede ao pote. Mas como o apressado come cru, essa gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar leitão.

Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca e o queijo nas mãos, eles se perdem em devaneios (piram na batatinha, viajam na maionese... etc.). Achando que beleza não põe mesa, pisam no tomate, enfiam o pé na jaca, e no fim quem paga o pato é o leitor que sai com cara de quem comeu e não gostou.

O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê não é tudo farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente.

Por outro lado se você tiver os olhos maiores que a barriga o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta chorar sobre o leite derramado porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana, afinal pimenta nos olhos dos outros é refresco...

A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de largar tudo e ir plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois quando se junta a fome com a vontade de comer as coisas mudam da água pro vinho.

Se embananar, de vez em quando, é normal, o importante é não desistir mesmo quando o caldo entornar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos a conversa chega na cozinha e fica de se comer rezando. Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda.

Cartas


O trecho transcrito abaixo refere-se a uma carta que o poeta Mário de Andrade enviou à pintora Anita Malfati, no dia em que ela viajou para fazer um curso de cinco anos na Europa.

S. Paulo 21 de Agosto

Querida amiga:

Estás a partir talvez a esta hora.. E eu te escrevo. Escrevo-te com a alma saudosa, desejosa de tua companhia. E ainda te escrevo porque é a única maneira de me perdoar a mim mesmo da pena que me fiz. Não imaginas a dor que senti quando, ao chegar à estação, vi que o trem já tinha partido. Uma surda raiva contra as circunstâncias me estonteou. Mandei-te aquele telegrama tristonho e fui distrair-me, a vagar por aí, sem nexo, sem direção. Os amigos virão aqui à noite. É terça-feira. Mas perdura a amarga decepção de não ter podido te abraçar mais uma vez. Perdoa. Mas, Anita, acredita: como é meu costume chego sempre tarde à estação. Bem: adeus. Rasga esta carta louca. Sê feliz. Um longo, longo, longo abraço.

Mário.