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quarta-feira, 14 de setembro de 2011


Fevereiro/2007

Era Uma Vez..... “Patativa do Assaré”, na sala de aula


Selma Cristina Freitas Pupim
Considerações Iniciais:

A expressão "literatura de cordel" foi criada por estudiosos da cultura popular para designar os folhetos vendidos em feiras, em uma referência ao que se fazia em Portugal, onde cordel era sinônimo de livro impresso em papel barato, vendido a preço baixo e exposto em barbante, cordões, que mostravam as belezas do povo na literatura.
A leitura de cordel no Brasil tem sido intensa nos últimos anos e, dessa forma, nos questionamos: existe uma didática da leitura em sala de aula capaz de gerar o prazer de pensar e confrontar idéias diversas? A leitura propõe a conscientização do leitor como o autor de seu pensamento? Quais as concepções de literatura, leitura e leitor dos professores que se propõem a formar esses estudantes?
Assim sendo, a literatura de cordel na escola pode desencadear o alargamento dos
horizontes do leitor ao ser vivenciada por ele. Cabe ao professor selecionar textos de valor artístico aos seus alunos, pois quanto maior o distanciamento da manifestação popular, menor será o seu vínculo com a arte literária. 

Justificativa:


Tomando essa perspectiva como ponto de partida, nos interessamos em saber se é
possível trabalhar com textos de autores de cordel e de grande qualidade literária em sala de aula . Além disso, gostaríamos de encontrar um modo de estimular o aluno a ler literatura.
Trabalhar com literatura de cordel em sala de aula é oportuno porque é uma maneira de se envolver mais com a poesia. O cordel é muito interessante pelo fato de ser popular, abordar temas atuais e do cotidiano, além de ser uma literatura que valoriza as tradições populares, a linguagem do homem simples, toda a beleza que há na vida das pessoas do interior colocada de uma forma também muito linda no papel.
A poesia de Patativa do Assaré é considerada a mais bela da nossa literatura popular, pelo fato de cantar em seus versos problemas geográficos e sociais, que são enfrentados na região nordeste. Seus poemas se relacionavam com os problemas de sua terra, das injustiças sociais e da perseverança do povo nordestino que sobrevive e resiste ao clima e à política desfavorável da região.
A escolha do poema a Seca e o Inverno  como corpus literário para a realização do trabalho justifica-se pela importância artístico-literária que o poema representa na produção de literatura de cordel.
 As crianças do Nordeste têm muito contato com literatura. Desde muito cedo elas ouvem poesia, lendas e histórias, além disso, valorizamos a cultura popular e a apresentamos com muito respeito.
Com a intenção de sugerir novas formas de usar essa literatura como instrumento pedagógico, é possível criar um ambiente agradável de invenção e apreciação dos folhetos sem o tormento da criação obrigatória. Afinal, como dizia Carlos Drummond de Andrade, precisamos mais de amadores de poesia do que propriamente autores."
Objetivos:

Este trabalho tem como proposta descrever e analisar a recepção da Literatura de Cordel em sala de aula, com o intuito de contribuir teórica e metodologicamente para um deslocamento nas questões do ensino da literatura, procurando identificar e compreender as variáveis que levaram leitores participantes do projeto a apreciar o gênero.
Num trabalho contextualizado, é oportuno apresentar aos alunos os aspectos geográficos do nordeste, trabalhar a estrutura de linguagem dos folhetos: suas rimas, versos, estrofes.
Parece-nos pertinente, então, analisar o papel da literatura no contexto escolar e levar
às salas de aula o resultado dessas reflexões. Se o intuito do sistema educacional é promover a emancipação, o ensino da literatura torna-se fundamental.
Dessa forma, a atividade com a literatura popular deverá focalizar a recepção do texto, levando em consideração a compreensão do leitor em sua situação atual.
Metodologia:

O encanto no aluno nasce na forma como o professor apresenta o material. Quando se mostra um cordel como algo legal, contando a história, explicando o porquê do nome, mostrando as diferenças entre a linguagem escrita e a falada, isso produz no aluno o desejo de olhar aquilo com carinho.
Para alcançar esse objetivo, esse trabalho desenvolve-se em duas partes: a
primeira, de fundamentação teórica, aborda concepções dessa modalidade de texto e, conseqüentemente, explora considerações acerca da sociologia da leitura, dos problemas sociais enfrentados pelo povo nordestino; a segunda visa a interpretação da obra, de modo a buscar sua constituição literária, procurando identificar as variáveis que levam os alunos a apreciar ou a rejeitar a obra, bem como estudar a sua recepção pelos alunos de uma 7ª série do Ensino Fundamental da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Adelaide Pedroso Racanello”, na cidade de Ourinhos – SP.
Primeiramente, analisaremos criticamente o poema A Seca e o Inverno a fim de expor seus elementos narrativos e refletir acerca das relações estabelecidas com o leitor. Em um segundo momento, descreveremos e interpretaremos a recepção da obra, bem como o processo de produção de cordel por esses alunos.
Entre outras atividades, os alunos poderão criar outros textos de cordel, utilizando como tema, uma festa de aniversário, uma balada ou um outro acontecimento, em pequenas trovas, construindo rimas.
Avaliação:

Por se tratar de uma pesquisa em andamento, pôde-se observar que, esses trabalhos com versos de cordel ajudaram a compreender aspectos relevantes do processo de aprendizagem da leitura e da escrita, além de resgatar aspectos da cultura nordestina. Permitiram, por exemplo, que se começasse a desvelar as razões pelas quais os alunos que apresentavam algum parentesco com Nordestinos pudessem se sensibilizar com os problemas vivenciados naquela região.
Além disso, acreditamos que o trabalho em sala de aula revela-se bastante significativo, já que muitos indivíduos têm contato com a leitura somente na escola.
No que se refere à linguagem oral, o avanço no conhecimento dessa leitura torna possível a compreensão do papel da escola no desenvolvimento de uma fala regional.
Considerações Finais:

Tendo em vista nossa preocupação em realizar uma pesquisa voltada para a prática
educativa, propomos uma abordagem sobre o poema de Patativa do Assaré, por alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, de uma escola pública de Ourinhos, na região oeste do Estado de São Paulo, com o intuito de contribuir teórica e metodologicamente para o deslocamento nas questões do ensino da literatura. Com isso, pretendemos averiguar se é possível trabalhar em sala de aula com literatura regional, levando os alunos à compreensão dos aspectos formais, estilísticos e temáticos da obra.
Falar em leitura, portanto, é tratar de aspectos teóricos, metodológicos, assim como
problemas políticos, sociais, educacionais, acreditando que a leitura de cordel é o meio do ser humano entrar em contato com os problemas vivenciados pelo povo nordestino.
A leitura então, é capaz de proporcionar uma experiência singular com o texto literário que leva o leitor a ampliar as fronteiras do seu conhecimento, a adquirir novas vivências e a refletir sobre o seu cotidiano.
Diante dessas considerações, falamos de uma prática da leitura literária que estimule a formação de sujeitos. É possibilitando o acesso à literatura popular que o pensamento do homem e seus costumes na vida em sociedade serão evidenciados.


                                            A SECA E O INVERNO
Na seca inclemente no nosso Nordeste
O sol é mais quente e o céu, mais azul
E o povo se achando sem chão e sem
veste

Viaja à procura das terras do Sul
Porém quando chove tudo é riso e festa
O campo e a floresta prometem fartura
Escutam-se as notas alegres e graves
Dos cantos das aves louvando a natura
Alegre esvoaça e gargalha o jacu
Apita a nambu e geme a juriti
E a brisa farfalha por entre os verdores
Beijando os primores do meu Cariri
De noite notamos as graças eternas
Nas lindas lanternas de mil vaga-lumes
Na copa da mata os ramos embalam
E as flores exalam suaves perfumes
Se o dia desponta vem nova alegria
A gente aprecia o mais lindo compasso
Além do balido das lindas ovelhas
Enxames de abelhas zumbindo no espaço
E o forte caboclo da sua palhoça
No rumo da roça de marcha apressada
Vai cheio de vida sorrindo e contente
Lançar a semente na terra molhada
Das mãos deste bravo caboclo roceiro
Fiel prazenteiro modesto e feliz
É que o ouro branco sai para o processo
Fazer o progresso do nosso país

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