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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Resenha: “O Colonizado em suas novas formas”

Por: Selma Cristina Freitas Pupim

A obra de Memmi, considerada um clássico sobre o colonialismo, não é recente e, muito embora tenha sido editada há alguns anos, se consagra por sua atualidade. Trata-se de um ensaio sobre o colonialismo clássico, cujo drama Albert Memmi vivenciou de perto, como testemunho humano, dilacerando-lhe a alma, transformando o sofrimento em instrumento de pesquisa e fonte motivadora para esse estudo.
A obra fora traduzida por Roland Corbisier, cuja responsabilidade se traduz por sua experiência e, por conseguinte, fundamenta suas idéias básicas sobre o colonialismo. Em linhas gerais, isenta de citações, números e estatísticas, Memmi descreve como “inumana, impiedosa e implacável” esse mecanismo que se denomina colonizado, alienado e se configura em perda da identidade.
Na verdade, o livro é uma importante lição sobre as novas formas que o colonialismo assume e, para quem inicia uma primeira leitura deste capítulo pode perceber que o colonialismo perdura, trata-se de uma realidade, de uma situação humana, de um fenômeno histórico que permanece até os dias de hoje, sofrendo apenas algumas transformações.
Sabe-se, que as doutrinas racistas partiam do princípio de que os brancos europeus, por serem superiores, possuíam uma missão civilizadora a ser cumprida no mundo. Portanto, o racismo resume e simboliza a relação fundamental que une o colonizado e o colonizador.
Ora, não há colonialismo sem racismo, o racismo nasceu da exploração capitalista e, como sabemos, a colonização africana fortaleceu-se em função do racismo e do determinismo geográfico. O modelo imposto pelos europeus baseava-se em ações político-econômicas, cuja essência era a dominação total, justificada pela ideologia difundida na Revolução Industrial.
Além disso, o determinismo geográfico se justifica pelo fato da África ter se desenvolvido melhor que outros continentes, por seus aspectos físicos mais favoráveis, especialmente climáticos. Desta forma, os mais "desenvolvidos" teriam como função, além de, uma subjugação política, dominar os menos afortunados e civilizá-los.
A profusão de detalhes, pouco a pouco, vai se justificando diante do fato de que, apesar de conquistada a independência política, muitos países africanos obtiveram apenas uma independência formal, pois “essa independência” não trouxe a paz e o desenvolvimento esperados pelos povos africanos. As agressões imperialistas continuaram a acontecer principalmente contra os países que optavam pela via não capitalista de desenvolvimento.
Para o autor, o colonialismo consiste na dominação e na exploração de grupos, classes e povos. Isso se confirma também em nações desenvolvidas por meio das ditaduras militares, lideranças, marginalização, enfim, sob todas as formas de domínio e submissão.
Como se não bastasse, a riqueza dos países ricos, juntamente com mão de obra especializada e conhecimento tecnológico coloca os países pobres em condição de “colonizado pelo colonialismo tecnológico”. Portanto, para Memmi, “Se, desenvolvimento é industrialização, o país que não dispuser de uma tecnologia própria, ficará na dependência dos países tecnicamente adiantados”.  Assim, como escreve Memmi, a descolonização é um processo que pode ser comparado a uma grave doença, quão dolorosa e lenta é a sua recuperação.
Aparentemente, estamos diante de uma situação colonial, um “fenômeno social global”, em que nações estruturadas e com recursos naturais, invadem, se ocupam utilizando força militar como forma de domínio e exploração.
Apoiado em sua visão, o autor ressalta que, os colonizadores trazem superioridade científica, tecnológica, econômica e cultural o que leva à condição de domínio, passando a explorar recursos naturais e a mão-de-obra nativa do país colonizado.
Enfim, surgem dois mundos diversos, do colonizado e do colonizador, na convivência passam a se “coabitarem”, isto é, partilhar diferentes culturas, novos costumes.
Segundo Memmi, “O colonizado jamais é caracterizado de maneira diferencial: só tem direito ao afogamento no coletivo anônimo”. Diante desse contexto, assim como a burguesia propõe uma imagem do proletário, a existência do colonizador reclama e impõe uma imagem do colonizado.
Sob esse aspecto, o colonialismo destrói a memória de um povo, os seus recursos, a sua história, enfim, o colonialismo age como uma força social destruidora e desumanizadora.


Sugestão de Leitura:
MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. Tradução de Roland Corbisier e Mariza Pinto Coelho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

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